Crônica do desemprego
Há
dois meses desempregada, vou até à prefeitura de uma pequena cidade falar com o
prefeito. Quem sabe não estão precisando de alguém com o meu perfil profissional?
Na
recepção lotada, vejo jovens mães com 3, ou mais filhos, mulheres de meia idade
que precisam realizar exames mais complexos e a secretaria de saúde não pode
liberar, então vão falar diretamente com o prefeito.
Sentada
lendo um romance enquanto espero, percebo uma mãe com um bebê no colo, olho em
volta e ninguém cede o lugar, chamo sua atenção: “moça, pode sentar aqui.” Ela
agradece sentando. Agora de pé com currículo em punho aguardo minha vez.
É
muito comum nas pequenas cidades (creio que nas maiores também), políticos se
elegerem na base da troca de favores: o candidato pede apoio de determinados
grupos dentro da comunidade e em troca emprega pessoas indicadas por determinados
membros desse grupo. O famoso QI, quem indicou; quatro anos depois muda o
governo e várias pessoas ficam desempregadas. Meu caso.
Saio
da entrevista sem muita esperança. Na saída atravesso a recepção ainda lotada,
quantos pedidos, quantos favores cobrados naqueles olhares que esperam uma
ordem do prefeito para que seu exame seja autorizado, ou querem de volta o
cargo perdido? ”pois existem muitos na fila e o meu caso é urgente, não posso
esperar. Por isso Sr. Fulano conseguiu essa hora para mim”, “eu era funcionária
da prefeitura, trabalhava direito, mas daí mudou o prefeito...”
E
assim a história política do Brasil vai sendo escrita. Um candidato favorece um
grupo, esse grupo o elege a base de favores pessoais e ninguém pensa no povo. O
candidato quando eleito esquece que está naquele cargo representando o povo, e
o povo esquece de si próprio quando prefere resolver um problema imediato
elegendo um representante em troca de um favor.
Chegando
em casa fui para a internet. Enquanto não consigo trabalho e ainda posso me
manter conectada, assisto Bye bye Brasil, me impressiono em ver que 37 anos
depois de seu lançamento, o país não mudou quase nada sua situação de pobreza.
E o povo brasileiro agora mais de nunca vive como os artistas da Caravana
Rolidei, fazendo o que pode para sobreviver.
Nair
Gevezier 22/02/2017.
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